Palavras ao Vento Literatura

domingo, 28 de junho de 2015

Melodia da Alma

Melodia da Alma
Via seus dedos percorrerem num dedilhar suave e perfeito as teclas do velho piano bem instalado num canto da sala de estar.
A Melodia ecoava divinizando aquele momento!
Sua elegância e altivez davam um toque de eterno aquele instante que agora percebo tão fugaz.
As rendas de seu vestido longo tocavam o chão como carícia.
Era Sagrado aquele solo!
Era Sagrado aquele amor!
A luz que vinha da janela entreaberta completava aquele quadro de beleza incomparável feito de luz e sombras alma e poesia.
Eu acomodado confortavelmente em minha cadeira de balanço assistia inebriado tanta magia e encantamento!
Meu pensamento se elevava, eu parecia levitar, enquanto minha alma livre bailava com o vento que me trazia seu perfume.
Como é bom bailar com e ao sabor do vento segredou minha alma num sussurro que me fizera esboçar um leve sorriso.
Hoje volto a este lugar onde o tempo não passou.
O velho relógio na parede  marca ainda hoje. a mesma hora daquele dia em que você se foi de mim.
Abro a janela que num ranger triste parece soluçar uma dor do passado ainda presente.
Uma réstia de luz ilumina o velho piano.
Vejo no ar partículas de poeira, poeira que agora é a bailarina do vento.
Minha alma já não baila mais.
Passo as mãos pelo aparador carregado da poeira de anos passados.
Abro o teclado ali está o tecido de seda que ainda ontem vi você dobrar e guardar com tanto carinho!
As lágrimas até então contidas rompem como cascata, não posso detê-las.
Pego o tecido e percebo nele seu perfume que ainda permanece ali.
Respiro com avidez. Ele me traz você meu amor numa realidade absurdamente forte.
Estamos de novo juntos, unidos, abraçados olhando da janela o por do sol como fazíamos todas as tardes.
Não sei por quanto tempo permaneci ali acomodado na velha cadeira de balanço.
Meu corpo estava ali, mas minha mente se ausentara levada pelas lembranças tão vivas e reais.
De repente, umas mãozinhas pequeninas me tocam e me chamam de volta a realidade.
Respiro fundo pego minha neta no colo e percebo-me forte novamente.
-Venha vovô, vamos pra casa ainda tem que me contar mais histórias da senhora do piano.
Pego minha neta no colo e saio dali livre, leve e feliz.
Tenho pela primeira vez em minha vida a certeza de ter vivido tudo que me foi possível viver ao seu lado meu amor!
Fomos felizes!
Sorrimos muito e ter esta clareza hoje é muito bom!
Ainda estou por aqui a embalar os netos e bisnetos que a vida nos deu de presente, bênçãos de Deus!
Agora sei que tudo está bem!
Amanhã de um dia qualquer voltarei a ver-te linda a tocar seu piano rodeada de anjos.
Num olhar me verás sorriremos um para o outro.
Depois sem palavras de mãos dadas caminharemos unidos pelo laço de um amor que nasceu para ser eterno!
Amor imortal!
Até breve minha luz!
Agora preciso ir brincar com os netos e voltar a ser criança para encantar-lhes a vida!
Até um dia meu amor!
Até!
Aqui fica a lição maior do amor hoje tão banalizado.
Aqui fica a verdade de que todo luto deve ser vivido à exaustão, pois só assim a vida conseguirá fluir sem amarguras.
Que como neste conto o passado não impeça a alegria do momento presente, só assim o futuro valerá!

Suely Sette 10/03/2014

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