Palavras ao Vento Literatura

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O QUEM SEJA EU (?)





É por existir um mundo de sombras, o qual é eventualmente
visitado pelas luzes do existencialismo, talvez delineado pelo
humanismo, ou ainda mais, seja filho do positivismo, quando em
mim surge um infinito de lástimas em prol de nossa vã filosofia, a
qual tanto amo e que me basta como ser imaginário de mim.

Esse mundo vigente é onde não me abrigo, pois eis que não caibo mais
em mim; consolidei-me como uma horda de auroras em minhas sinapses.
Existe, por assim dizer, um ser em meu Ser a se alimentar de
minhas intrínsecas súmulas, onde resulto em minhas fadadas
idéias, e esse ser será o meu anseio futuro.

Há em mim um desejo inexorável, filho de uma necessidade
titânica de deglutir a solidão e a dor de não ser.
Há em mim um milhão, setecentos e trinta e dois mil, duzentos e
treze personalidades esquizoides, todas elas lutando, para não
se tornarem uma só, tal qual sou obrigado a assinar (ou assassinar-me ?)

Há em mim uma lágrima por ser quem sou.
Às vezes tenho lapsos de razão, e nesses afãs de lucidez,
canoro verborreando as mais lindas capelas de amor.
Não consigo perceber como de uma alma tão confusa quanto a
minha, pode florescer essa luminescência que cega aos olhos do
espírito e destrona a razão.
Talvez seja a falta desse brilho a noite escura cantada
agonicamente pelos místicos.
Talvez seja a perfeição do olhar, ou o olhar da perfeição.
Talvez seja uma palavra esperando tradução.
Talvez estejamos vivos, mas como viver se o talvez seja a nossa
única certeza?

Viver nesse mundo de sentidos e necessidades é como está
sedento em frente ao mar: água, muita água e, no entanto não
se pode beber, só contemplar a pele liquida do planeta.
Em outras palavras, ver a vida e não poder modificá-la e ter que
aceita-la tal como ela é, ou seja, viver parar morrer e nesse curto
tempo, escrever uma história de vida.
Essa imensa voracidade oceânica da razão devora todos os
sonhos.

Por mais que eu resista, a aluvião dos sentimentos pretéritos me
corrói por dentro, e busco decantar meus mais íntimos humores.
Às vezes tenho ganas de mergulhar com todas as bruxuleantes
alvoradas para a escuridão de meus breus pensamentos
reprimidos, e crer que minhas idéias não passam de fogo-fátuo
em meu oblíquo e estrábico horizonte.
Minha mente, mente ao guardar em si a semente do amanhã
incerto.
Já se imaginou o que fazer hoje se morasse em nós a certeza
de que o amanhã nunca chegará?

Para me distrair desse mundo antropofágico de sonhos eu
transporto almas com Caronte, filosofo com Nietzsche,
domestico quimeras, guio Dante, navego com Ulisses, crio com
Dalí, janto com os apóstolos, perco-me em Creta, discordo de
Descartes, piloto o Enola Gay, aprendo com Trimegistus, calculo
com Estein, aventuro-me com Jasão, cavalgo com Centauro,
esculpo com Rodin, agasalho-me com o novelo de ouro, ilumino-me
com Rá, jogo moedas com Fortuna, concordo com Marx,
queimo-me com De Molay, sorrio da vida com os suicidas,
espelho-me em Narciso, interpreto com Shakespeare, balanço-me
com Quazímodo, toco com Bach, desafio Zeus, amo Psiqué,
decifro Delfos, Cirurgio com Mengele, estudo com Aknathon,
sirvo com Hermes, engano Hades, banho-me com Iemanjá,
brinco com todos os volts, invado com Átila, choro de medo com
Jesus, durmo com Hipnos, alimento Sérbero, conquisto com
Napoleão, danço com Fauno, defendo Judas, sacio a sede nos
jardins suspensos, componho com Mozart, convenço Arjuna, fujo
com Enéias, pinto com Van Goch, medito com Sidarta,
transmuto chumbo em ouro com Paracelso, entendo-me com
Freud, inicio-me com Crowley, viajo para Orphalese, incentivo
Lênin, assisto Goeth, acalmo a tempestade com Eolo, escondo-me
com Ali-Babá, pesquiso com Darwin, empalo com Vlad, e
como penso estar me usando para algo que reste, em mim para
algo ou alguém; vivo uma eternidade finita de sentimentos, e
tenho a vida por um fio de sonho, já que o oxigênio da vida é
droga necessária para não implodir.

Oh sofreguidão.
O mundo lá fora com suas cobiças.
Essa luta insana e desigual pela sobrevivência animal.
O mundo a me gritar o que é belo e funcional, e o que me fará
feliz na moda da próxima estação consumista.
E eu aqui, entre essas paredes de planeta a pensar que penso e
tentando me abrigar desse frio que faz dentro de meus átomos,
me pergunto em quase todos os segundos o que fazem as
pessoas para serem tão iguais, e o que fazem as pessoas
parecerem tão iguais.

Não consigo ver o que eles enxergam.
Não consigo rir do que eles acham graça (talvez eu seja o
palhaço da vez?).

Não participo de suas guerras de injúrias.
Não me comprazo na dor maquiavélica do inimigo vencido.
Não consigo deixar de ser eu mesmo, esse ser desconfiado,
casmurro, taciturno, urilófilo, onicófago, apocopado no linguajar,
anarquista, mitômano, colérico, sanguíneo, melancólico, lério,
xenófilo, visceralmente lerdo, pachorrento, alcoolista, solitário,
absintado, niilista, humoristicamente volátil, descreditado,
reclinado, palrador, túmido, leigo, introspectivo, tetra-pentadátilo,
claustrofóbico, pseudolépido, progressista, sorumbático,
xifópago de mim mesmo, desacreditado, dispendioso... Ou seja,
um pitecantropo na solidão da megalópole, pois eis que sou um
universo de cismas retráteis no vai e vem dos meus raros
momentos de paciência.

Amo o que posso amar.
E amo as elegíacas prolixas a figurarem no epitáfio de minha
futura cova rasa.
Amo as esferas perfeitas sobrepostas sem deslizes.
Amo a arte pictórica de um surrealismo expressionista.
Amo as notas clássicas, barrocas e românticas a impregnarem
em meus poros e a decantarem-se em perfeitas vibrações nos
humores do meu ser, não se necessitando de populares axilas
para serem conhecidas.
Amo os primitivistas, pontiadores de telas rústicas com talento
que superam as formalidades acadêmicas.
Amo as amplitudes quânticas não observadas.
Amo o sonho de Quixote pela virtude e verdade.
Amo a lição perfeita de Al-Mustafa.
Amo o feio discriminado.
Amo o abstrato do surrealismo analisado pelo racionalismo do
existencialismo.
Amo os Ichthyosaurus e os Pleisiosaurus em sua luta no oceano
do interior da terra.
Amo o trovador errante do Nordeste porquanto se dar o direito
de falar errado do certo, pois sei que não há entre os vivos quem
fale certo do errado.
Amo Zarastutra, amo o seio materno, amo Ecco, amo a luta de
Zumbi, o céu até onde posso ver, as obras de arte, amo
segredos, o Lácio expansivo de minha mente, toda as magias, a
luta contra a fome, a revolução social, o povo oprimido
que não se satisfaz na lama, a justiça entre os desiguais, todos
os bons livros, amo pessoas distantes, amo o que a maioria
odeia.
Amo o que posso chamar de nosso e amo o caminho do amar.
Faço amor com versos e prosas, transo com rimas e sonetos,
durmo ao lado de poemas e poesias, estupro odes e
redondilhas.
Almoço tempo, janto espaço e arroto vida.
Faço amar quem precise se enganar.
Como um envenenado trago em mim o ódio por aquilo que me
mata.

Odeio nulidades.
Odeio bazófia.
Odeio imposições.
Odeio impugnações.
Odeio o plano divino do livre arbítrio condicionado.
Odeio o engodo sofismático do amor.
Odeio o capitalismo excluídor.
Odeio a esquizofrenia incompreendida de Nabucodonosor.
Odeio a mentira da vida imposta.
Odeio o grande irmão.
Odeio a inércia da vida eterna.
Odeio ter que odiar, pois tenho minhas necessidades, e delas
não posso fugir.
Pois eis que por carbono, eletricidade e água, existo.
Por ilação, penso.
Por ebulição, falo.
Por inalação, sinto.
Por mister, vivo.
Por osmose, alimento-me.
Por poemas, defeco.
Por letras, rastejo.
E por eflorescência, sou esse ser díspar.

Quase todas as eras, irrompem em mim vulcânicas primaveras.
São herbáceas araliáceas, muitas vezes ramnáceas, a brotarem
em frágeis ramos de minha flora decadente.
Procuro fixa-las em um retábulo, e no exercício de iluminuras do
livro da vida, copiá-las em pergaminhos atemporais contadores
de minhas histórias.
Procuro na beleza das flores e das borboletas, as obras primas
da arte universal.
Eis que essas duas criações da física quânticas são as mais
belas das galáxias, observo alimento e predador a fundir-se num
rápido balé para o sexo oral, onde a beleza transpõe a
sobrevivência, e os lepidópteros satisfazem seus prazeres
orgânicos no gozo da monocotiledônea.

Suas cores e movimentos, na paleta azul do céu sem limites, e
no limitado alvoroçar nos campos, tornam a vida menos cinza.
Lá, nas paragens perfumadas dos jardins baldios, estão
acoplados em um amor silencioso.
Na sua rotina divina eles são assim diretos, diáfanos em suas
asas e flores, irresponsáveis pelas bombas nucleares e eu de
cá, a mirá-los dentro de uma prisão de carne, ossos, dentes e
pelos.
Observo o vento pentear a cabeleira multicolorida no sopé do
monte, qual titã quando se eleva do solo cobrando sua presença
na pele da terra.
No campo de flores que o circunda, os girassóis estão prontos
para serem modelos para a paleta de um gênio louco.
A arte que o mundo nos dá, é aquilo que podemos perceber,
pois como não pressupor a residência de emanações
inconsciente, que igual a chuva no mar, soma muito ao que já
existe em abundância?
Durante o tempo que temos para dizer que vivemos, aprendi que
esse mundo não ensina nada.
E se alguém deseja aprender algo, que seja consigo próprio,
pois não há nada que nos seja dado que já não exista em nós
mesmos.

Aprendi que erro e loucura são as mais puras verdades, só que
ao contrário.
Aprendi que o amor é um mal necessário, pelo qual se morre
para reviver das cinzas que restaram.
Aprendi com as crianças que as melhores perguntas são as sem
respostas e feitas agora.
Aprendi que a diferença entre visão estática e frenesi impositivo,
é muito pequena.
Aprendi observando a morte que a vida é apenas um ato na
longa tragédia da vida, e que o show tem que continuar.
Aprendi que sendo eu, sou tudo aquilo que não sonhei ser,
exceto que o mundo quis que eu fosse.
Aprendi com as letras que as palavras são imagens oníricas.
Aprendi a aprender para não me prender em mim mesmo.

Não sei porque penso viver, e nem tenho essa certeza, se
certeza existe e é essa.
Nunca encontrei nenhuma oxalidácea que me desse à sorte de
não ter sorte.
Nunca vi o mundo sem dor.
Nunca pisei onde nunca estive, mas sempre pensei em estar lá.
Nunca fiquei de bem com a dor.
Não encontrei paz na guerra.
Nunca vi beleza na dor retorcida.
Nunca fui a favor da morte para a vida.
Nunca estive do lado do vencedor.
Nunca, na verdade, eu fui eu mesmo.

O que quer eu seja eu, trago em mim esse mistério infinito e
indecifrável do que penso ser, e no fim dessa leréia textual,
acabo sendo essa coisa sinistra que minha mãe chamava de
filho.
Por tudo que vomitei nessas letras, não consigo ainda pensar
que a vida tem sentido de ser.
E no fim, como um condenado que faz o soturno e derradeiro pedido,
suplico que o meu réquiem seja ao som do silencio do sorriso,
pois eis que mais um ser, com sete metros de intestinos abaixo de sete palmos de terra, vai
infectar a terra que alimenta as flores.
Vamos pensar viver, dias melhores talvez não venham.




É Isso.

Edson Floyd.




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