Naquele
momento, a atenção de Alves fora desviada para algo que já acontecera outras
vezes. Embaçado ou fora de foco, via ele um portão ladeado por colunas. Uma
espécie de caminho coberto, com cerca de quinze metros de largura, com fileiras
de colunas de sete metros e meio de altura cada, e uma construção que lhe
pareceu ser um santuário, do lado do sol nascente, e onde pessoas reunidas eram
ensinadas por um ancião. Alves pode
ouvir o que ele acabara de dizer: “Haja luz". Ambos viram a mesma coisa,
embora de modos diferentes, e ficaram durante um tempo, olhando aquela cena,
envolta por uma luminosidade azul. O homem, voltando-se para Alves, continuou a
falar.
- O que está vendo é
o princípio de todas as coisas, exceto o tempo, que já existia. E o ancião e os
demais seres que vê, comprovam isso. Eles já existiam antes da luz vir à
existência. E antes deles, os céus e a terra já existiam. Sem a existência do
tempo nada pode vir à existência. O tempo só existe enquanto intervalo entre eventos
– disse o homem.
- Se é como diz, que
nada pode existir sem que antes exista o tempo, como o tempo veio a existir? - Disse
Alves.
- Quando alguém faz
esta pergunta, é porque se encontra diante da situação em que deve aceitar ou
negar a existência do Incriado, isto é, daquele que existe por si mesmo – disse
o homem.
- Você quer dizer
aceitar a existência do que não pode ser provado, é isso? – Disse Alves.
- Não é bem assim.
Isto é possível quando a criatura humana descobre um senso de fascínio que
antecede e vai além do racional e passa a fazer parte dos sentimentos de quem
entra em contato com a santidade da Divindade, sem importar o nome que se dê a
ela, e descobre acerca da natureza sagrada e da santidade deste Ser – disse o
homem.
- Ou seja: quando os
teólogos acreditam muito em si mesmos ao tentarem descrever a natureza de um
Ser divino acabam descrevendo um super-homem, isto é, aquilo que o homem é
elevado a uma alta potência – disse Alves.
- É um grande
mistério ou o ”Mysterium Tremendum”,
como alguns estudiosos costumam chamar. Se a teologia pudesse nos dar uma boa descrição
sobre a natureza da Divindade, então teríamos uma humanologia, e não uma teologia – disse o homem.
- Realmente é isso
que acontece. Os religiosos transbordam de análises racionais, sempre expressas
na forma de pensamento que é comum a diversas crenças religiosas que atribui a
deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais comportamentos e pensamentos
característicos do ser humano. Mas, quando o Ser supremo é sentido, embora não
possa ser descrito, então o adorador fica sabendo algo do que significa a Sua
santidade e grandiosidade – disse o homem, fixando os olhos em Alves.
- E o que dizer do
homem de idade que falou “Haja luz”? - Disse Alves.
- Na verdade – disse
o homem -, o ancião, apesar de ser uma criatura, não era um ser humano e o que
você ouviu não foi dito por ele. O que acontece, e a ciência já comprovou, é
que o som se propaga segundo ondas que, uma vez emitidas, continuam se
propagando infinitamente, como acontece com o universo que está se expandindo
infinitamente, embora esta expansão ainda seja uma teoria e não uma verdade
como quase todos são levados a acreditar. Assim, as palavras que ouviu foram
ditas num tempo incalculavelmente longínquo e impossível de ser medido pela
mente humana. Quanto à luz, foi a primeiro elemento que surgiu segundo textos
considerados sagrado.
- Vamos recapitular
– disse Alves. Em um só momento estavam presentes o ancião, o grupo ao qual ele
se dirigia e o som das duas palavras ditas, está correto? – disse Alves.
- Está correto,
exceto que não aconteceu num mesmo momento. O que você mencionou aconteceu em
momentos distintos no tempo e antes do aparecimento do primeiro homem. O que
viu foi com o olhar humano racional, pois, somente assim ele pode enxergar os
acontecimentos – disse o homem.
- Você diz isso como
se isso fosse a coisa mais simples do mundo! – Disse Alves.
- Não, não é
simples. Antes, pelo contrário, é extremamente complexo e somente poucos seres
humanos conseguem perceber como as coisas acontecem do outro lado – disse o
homem.
Não fosse a visão
que Alves acabara de ter, ele não perderia mais tempo com aquela conversa. Já
fora mais do que suficiente o tempo que perdera, antes de ficar internado
naquele manicômio como um louco qualquer. Mas, finalmente, alcançara a lucidez.
Por esta razão, estava decidido a levar aquela conversa até o final. A lucidez
lhe permitia isso, segundo pensava.
- Há um ditado entre
vocês que diz que “A paciência é amarga, mas o seu fruto é doce”. Se puder ser
paciente no ouvir e tardio no falar, talvez eu possa lhe passar algumas
informações – disse o homem, percebendo que Alves estava impaciente.
Alves voltara ao seu
estado normal, e de uma maneira que não podia explicar, sentiu-se tomado por um
sentimento de paz como nunca antes sentira. Pediu que ele continuasse a falar.
- Voltemos para a
visão que experimentou. Um ancião, que lhe pareceu ser um homem, o som das
palavras e o tempo, embora não tenha percebido este último.
- Alves, o ser que
chamou de ancião e que falava ao grupo, chama-se Malak– disse o homem.
- É curioso você
saber o meu nome e eu não saber o seu – disse Alves.
- Pode me chamar de
Kiriat – disse o homem.
- Pois bem, Kiriat. E
quem são eles? – Perguntou Alves.
- Para responder sua
pergunta, precisarei falar de outras civilizações que existiram a milênios
passados e perdidos. Civilizações mais adiantadas... - Falava Kiriat, quando
foi interrompido por Alves.
- Estamos falando de
um tempo antes ou depois de Cristo? – Disse Alves.
- Usando como
referência esta época, então falaremos de civilizações pré-adâmicas – continuou
Kiriat.
- Sim, façamos isso
– disse Alves.
Continua...
EP. Gheramer
EP. Gheramer
Continua ...
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