Palavras ao Vento Literatura

sábado, 24 de outubro de 2015

O PROJETO - Capítulo 4




Naquele momento, a atenção de Alves fora desviada para algo que já acontecera outras vezes. Embaçado ou fora de foco, via ele um portão ladeado por colunas. Uma espécie de caminho coberto, com cerca de quinze metros de largura, com fileiras de colunas de sete metros e meio de altura cada, e uma construção que lhe pareceu ser um santuário, do lado do sol nascente, e onde pessoas reunidas eram ensinadas por um ancião.  Alves pode ouvir o que ele acabara de dizer: “Haja luz". Ambos viram a mesma coisa, embora de modos diferentes, e ficaram durante um tempo, olhando aquela cena, envolta por uma luminosidade azul. O homem, voltando-se para Alves, continuou a falar.
- O que está vendo é o princípio de todas as coisas, exceto o tempo, que já existia. E o ancião e os demais seres que vê, comprovam isso. Eles já existiam antes da luz vir à existência. E antes deles, os céus e a terra já existiam. Sem a existência do tempo nada pode vir à existência. O tempo só existe enquanto intervalo entre eventos – disse o homem.
- Se é como diz, que nada pode existir sem que antes exista o tempo, como o tempo veio a existir? - Disse Alves.
- Quando alguém faz esta pergunta, é porque se encontra diante da situação em que deve aceitar ou negar a existência do Incriado, isto é, daquele que existe por si mesmo – disse o homem.
- Você quer dizer aceitar a existência do que não pode ser provado, é isso? – Disse Alves.
- Não é bem assim. Isto é possível quando a criatura humana descobre um senso de fascínio que antecede e vai além do racional e passa a fazer parte dos sentimentos de quem entra em contato com a santidade da Divindade, sem importar o nome que se dê a ela, e descobre acerca da natureza sagrada e da santidade deste Ser – disse o homem.
- Ou seja: quando os teólogos acreditam muito em si mesmos ao tentarem descrever a natureza de um Ser divino acabam descrevendo um super-homem, isto é, aquilo que o homem é elevado a uma alta potência – disse Alves.
- É um grande mistério ou o ”Mysterium Tremendum”, como alguns estudiosos costumam chamar. Se a teologia pudesse nos dar uma boa descrição sobre a natureza da Divindade, então teríamos uma humanologia, e não uma teologia – disse o homem.
- Realmente é isso que acontece. Os religiosos transbordam de análises racionais, sempre expressas na forma de pensamento que é comum a diversas crenças religiosas que atribui a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais comportamentos e pensamentos característicos do ser humano. Mas, quando o Ser supremo é sentido, embora não possa ser descrito, então o adorador fica sabendo algo do que significa a Sua santidade e grandiosidade – disse o homem, fixando os olhos em Alves.
- E o que dizer do homem de idade que falou “Haja luz”? - Disse Alves.
- Na verdade – disse o homem -, o ancião, apesar de ser uma criatura, não era um ser humano e o que você ouviu não foi dito por ele. O que acontece, e a ciência já comprovou, é que o som se propaga segundo ondas que, uma vez emitidas, continuam se propagando infinitamente, como acontece com o universo que está se expandindo infinitamente, embora esta expansão ainda seja uma teoria e não uma verdade como quase todos são levados a acreditar. Assim, as palavras que ouviu foram ditas num tempo incalculavelmente longínquo e impossível de ser medido pela mente humana. Quanto à luz, foi a primeiro elemento que surgiu segundo textos considerados sagrado.
- Vamos recapitular – disse Alves. Em um só momento estavam presentes o ancião, o grupo ao qual ele se dirigia e o som das duas palavras ditas, está correto? – disse Alves.
- Está correto, exceto que não aconteceu num mesmo momento. O que você mencionou aconteceu em momentos distintos no tempo e antes do aparecimento do primeiro homem. O que viu foi com o olhar humano racional, pois, somente assim ele pode enxergar os acontecimentos – disse o homem.
- Você diz isso como se isso fosse a coisa mais simples do mundo! – Disse Alves.
- Não, não é simples. Antes, pelo contrário, é extremamente complexo e somente poucos seres humanos conseguem perceber como as coisas acontecem do outro lado – disse o homem.
Não fosse a visão que Alves acabara de ter, ele não perderia mais tempo com aquela conversa. Já fora mais do que suficiente o tempo que perdera, antes de ficar internado naquele manicômio como um louco qualquer. Mas, finalmente, alcançara a lucidez. Por esta razão, estava decidido a levar aquela conversa até o final. A lucidez lhe permitia isso, segundo pensava.
- Há um ditado entre vocês que diz que “A paciência é amarga, mas o seu fruto é doce”. Se puder ser paciente no ouvir e tardio no falar, talvez eu possa lhe passar algumas informações – disse o homem, percebendo que Alves estava impaciente.
Alves voltara ao seu estado normal, e de uma maneira que não podia explicar, sentiu-se tomado por um sentimento de paz como nunca antes sentira. Pediu que ele continuasse a falar.
- Voltemos para a visão que experimentou. Um ancião, que lhe pareceu ser um homem, o som das palavras e o tempo, embora não tenha percebido este último.
- Alves, o ser que chamou de ancião e que falava ao grupo, chama-se Malak– disse o homem.
- É curioso você saber o meu nome e eu não saber o seu – disse Alves.
- Pode me chamar de Kiriat – disse o homem.
- Pois bem, Kiriat. E quem são eles? – Perguntou Alves.
- Para responder sua pergunta, precisarei falar de outras civilizações que existiram a milênios passados e perdidos. Civilizações mais adiantadas... - Falava Kiriat, quando foi interrompido por Alves.
- Estamos falando de um tempo antes ou depois de Cristo? – Disse Alves.
- Usando como referência esta época, então falaremos de civilizações pré-adâmicas – continuou Kiriat.
- Sim, façamos isso – disse Alves.

Continua...

EP. Gheramer




EP. Gheramer

Continua ...



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