Palavras ao Vento Literatura

sábado, 6 de junho de 2015

A VIDA É BELA

A VIDA É BELA
Estou em algum lugar da minha odisséia. Estou no asfalto, nas praças e no lixo das valetas. Cobre-me como um guarda-chuva burguês ou chinês( e a esta altura, a incoerência não tem apenas pregas nos olhos)um falso azul de céu profano. Não mudo muito de lugar, a minha aventura não vai além dos ônibus. Converso com o Bairro, falo com o oxigênio que respiro. Até onde e até quando terei humanos na minha calçada? Até quando terei memória?
Olho para estes dias lavados com Ariel(o mais novo milagre na luta contra as manchas metafísicas ) e tenho sempre a impressão de que fui mais uma vez enganado pelo branco total de OMO. Pouco importa! Não interessam estes óculos que carrego em lugar tão vago. E para quê ver se a ordem que vem das Brasílias é subvencionar as míopias. Os cegos estão isentos de I.C.Ms. Fecharam todas as óticas e eu sou um dos clandestinos que carrego esta armação tão sutil em lugar tão vago. Foram os estrábicos que fizeram a vida bela. A vida é bela! Quanta beleza há nos olhos dos viram apenas as rosas. Quanta alucinação há nos olhos dos que não viram o morto. Eu vi o morto e as rosas de praxe. Eu vi quase tudo e só parei de olhar para não ser pego de óculos na mão.
Eu nasci de óculos. Trago não sei de onde os óculos inatos da minha genética, da minha ética e do meu inconformismo. A vida é bela! Como a vida é bela! A propaganda nazista da beleza penetra o cristalino e as cataratas dos que insistem em dizer que enxergam.
Definitivamente temos que internar os que usam óculos.

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